Durante essa última semana, você deve ter acompanhado o caso do livro “ABECÊ da Liberdade: A história de Luiz Gama”, livro infantil da Companhia das Letras sobre a infância do abolicionista Luiz Gama.

 

O livro de autoria de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta com ilustrações de Edu Oliveira traz em uma de suas páginas, imagens em que crianças negras pulavam corda com correntes e achavam graça em brincar de escravos de Jó no porão de uma navio negreiro enquanto navegavam rumo à escravidão.

 

Como o Instituto propõe discutir as questões educacionais, também, é importante trazer essa reflexão acerca das produções literárias que foram e continuam sendo trabalhadas com nossos alunos e alunas, entre outros públicos. Por muito tempo a representação da realidade retratada na nossa literatura partiu de uma perspectiva ocidental, branca e machista. A abordagem dos corpos das pessoas pretas sempre foi apresentada a partir da violência.

 

A partir da perspectiva do letramento racial, que remete à racialização das relações desses sujeitos, ou seja, o estabelecimento de direitos e deveres hierarquicamente diferentes para negros e brancos, inclusive na literatura, é essencial analisar nossa didática, também, enquanto educadores. Pois essas narrativas foram tão naturalizadas que nos fez acreditar que essa era a única realidade, normal e justa.

 

Neide Almeida (2017) diz que ler e escrever vai além de apenas compreender uma língua e seu funcionamento, mas também, entender como serão usadas a leitura e a escrita, os contextos dessas práticas e como os sujeitos serão afetados por essas experiências.

Portanto, ainda que a obra seja “um romance histórico fictício para crianças” como argumenta o próprio autor, Torero, devemos nos questionar, qual o objetivo, método e a responsabilidade assumimos em relação a essas crianças leitoras – negras ou não negras – ao apresentar esse livro e narrar crianças escravizadas vivendo de forma lúdica a experiência da escravidão sem nenhum tipo de contextualização.

 

O Instituto convida você a pensar sobre a necessidade de aprender ainda mais sobre as questões raciais que envolvem nossa sociedade. É importante para nós enquanto profissionais e principalmente para quem nos ouve e nos tem como referência.

plugins premium WordPress