Os tempos atuais, levando em consideração as múltiplas diferenças, lembram muito o Brasil do início do século XX, quando o país vivia, em 1904, a realidade de vários infectados pela varíola. Parte da população na época também se negava a tomar a vacina, tendo em vista a disseminação de boatos de que quem se vacinasse, corria o risco de ficar com feições bovinas. Tudo gerado pelo fato de que a vacina consistia em um líquido de pústulas de vacas doentes.
O exemplo acima lembra as Fake News que têm sido difundidas acerca das vacinas para controle da covid-19. Entre elas, temos que: A vacina modifica o DNA das pessoas; A vacina contém compostos derivados de células de fetos abortados; As vacinas fazem parte de uma grande conspiração de Bill Gates para implantar microchips nos seres humanos ou até que voluntários dos testes da vacina já morreram por terem sido vacinados.
Essa estratégia de lançar notícias falsas vêm de grupos do “movimento antivacina” que tem crescido bastante nos últimos anos, principalmente através das redes sociais. Apesar das tentativas de várias organizações – cientistas, intelectuais, militantes de movimentos sociais e artistas – as mentiras sobre os efeitos negativos das vacinas alcançam níveis aterradores, inclusive levando à morte de pessoas que contraíram a doença, mas que se convenceram a seguir um certo “tratamento precoce” à base de medicamentos que até então não têm eficácia comprovada contra a Covid-19.
Com a aprovação da vacina CoronaVac desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac e financiamento público e privado, as Fake News sobre a eficácia da vacina ampliaram-se, o que tende a impactar negativamente o processo de imunização da população. A negação à vacina, em grande medida gerada por desinformações, é um problema que preocupa tanto médicos quanto a comunidade científica.
Além das notícias falsas, outro problema grave detectado em vários municípios brasileiros, a partir da liberação dos lotes de vacina pelo Ministério da Saúde aos estados, diz respeito ao não respeito ao cumprimento da ordem de vacinação aos grupos prioritários, que neste primeiro momento, são os profissionais de saúde – pessoas mais vulneráveis neste momento, já que tratam diretamente com infectados pelo Novo Coronavírus. A imprensa tem denunciado que, em vários municípios do País, pessoas que não compõem este grupo estariam recebendo a dose da vacina sem obedecer aos critérios estabelecidos pela pasta responsável.
Esta realidade é algo bem típica da elite brasileira, que em vários momentos negou a gravidade da doença, disseminou notícias falsas em torno do tratamento precoce da covid-19, aglomerou em festas, praias, viagens, zombou de infectados, entre outros horrores e que agora fura as filas para ter entre seus membros os primeiros a receberem a imunização, chegando até a divulgar fotos em suas redes sociais. Um verdadeiro show de horror, bem típico de uma elite atrasada que se julga europeia e branca.
No início da pandemia, a ideia que tínhamos era a de que as pessoas se tornariam melhores, mais conscientes de seu papel como cidadãos e cidadãs – cientes de seus direitos individuais mas, também, de sua responsabilidade social. Acreditava-se que o egoísmo cederia para a solidariedade, mas o que vemos é a prática comum a uma certa parcela da população que não se comove diante dos mais de 200 mil mortos e que quer livrar a própria pele da asfixia e da morte. É preciso que as instâncias de controle façam seu trabalho e punam os envolvidos, pois estamos lidando com vidas humanas, mesmo aquelas que parecem ser a “carne mais barata do mercado”.