A saúde do trabalhador, nos últimos anos, tem sido alvo de estudos bem mais aprofundados devido ao grande número de profissionais que se encontram adoecidos pelas demandas, cada vez mais, aceleradas na sociedade atual. Diversas transformações ocorreram no decorrer do processo histórico de formação das grandes civilizações. Mas foi principalmente após a II Revolução Industrial em 1870, na Europa, que o trabalho se organizou sob os moldes do capitalismo.

Na América esse processo chega com um certo atraso e acontece com algumas peculiaridades – tanto pelo processo colonial, quanto pela experiência escravocrata. O Brasil experimentou um capitalismo tardio e com características e resquícios pelo forte colonialismo e pelo escravismo. O capitalismo chegou no país em meio a um processo de abolição da escravidão. As desigualdades sociais e econômicas que existiam no país em decorrência do período colonial foi reforçado com esse “capitalismo selvagem” aqui instalado. Durante esse novo período da história no Brasil, o povo preto antes escravizado foi deixado à margem do mercado, as admissões para o trabalho assalariado eram preteridas para os imigrantes, ainda dentro dos canaviais e nas novas indústrias, que apareciam a passos lentos no país.

O Capitalismo e o processo de industrialização aconteceram enquanto ainda havia uma forte produção agrícola no país e uma enorme taxa de desemprego, principalmente nos estados da região Nordeste. Foi somente depois da “Grande Depressão” na década de 1930, que a indústria passa a ser prioridade no Brasil. Após a I Grande Guerra o país intensifica o processo que até então estava se adequando às condições completamente opostas as vivenciadas por países capitalistas do continente europeu, nos séculos anteriores.

As próprias condições de trabalho como expressão da questão social poderão ser entendidas como fatores de adoecimento do trabalhador e da trabalhadora. Com isso políticas públicas passam a ser pautadas por essa classe, no que se refere à saúde do trabalhador.

Após a promulgação da CLT, os direitos dos trabalhadores começaram a ser estruturados da maneira que conhecemos hoje. O desenvolvimento e estruturação da política enquanto uma conquista da luta da classe trabalhadora passa por um processo que acontece após a proposta da reforma sanitária, a constituição de 1988 e a estruturação do SUS no início da década de 90, que somente em 2012 a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora é formulada e implementada no Brasil.

A saúde no Brasil não seria uma saúde voltada apenas para habilitação e reabilitação, o foco não seria somente o adoecimento dos indivíduos, mas o processo de saúde-doença com ênfase na prevenção ao compreender todos os determinantes sociais para saúde dos indivíduos, inclusive o trabalho.  O desafio para o início do século agora era consolidar um Sistema Único de Saúde em um país que acabava de sair de um regime ditatorial, com um gravíssimo problema de inflação e um projeto neoliberal a ser implementado concomitantemente.

O capitalismo como sistema que se sustenta nas desigualdades sociais, o que significa que as pessoas não terão as mesmas condições de acesso, porém nas primeiras décadas deste século isso tem se reforçado. O trabalho informal, vendedores ambulantes entre outras formas de trabalho, sem nenhuma segurança, estão fazendo parte do cotidiano e dessa nova imagem das cidades, das ruas e da sociedade.

Com o desenvolvimento do neoliberalismo e as tecnologias, diversas mudanças cercam o mundo do trabalho. Tais mudanças geram um adoecimento dos trabalhadores, o que não se resume aos acidentes físicos, mas, também, a um adoecimento mental. As relações de trabalho estão cada vez mais flexibilizadas, o que significa que não existe um pacto contratual fixo, os trabalhadores estão submetendo-se ao que antes não se imaginava possível para que haja a garantia do seu contrato de trabalho, muitas vezes desempenhando diversas funções as quais não correspondem ao contrato. Para o que antes era necessário um grupo de trabalhadores, hoje um indivíduo com o auxílio da tecnologia produz sozinho, o que reflete em outro problema, o desemprego estrutural

Com isso, devemos ficar ainda mais atentos a essas conquistas já que estamos passando pela maior crise sanitária e de saúde no mundo inteiro. As taxas de desemprego que já estavam elevadas, cresceram ainda mais no ano de 2020, as condições de trabalho que já levavam ao adoecimento, agora com a COVID-19 são ainda mais perigosas. O ano de 2021 será o início de uma restruturação em todas as esferas da sociedade e a classe trabalhadora não poderá sair ainda mais prejudicada.

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